sábado, 29 de maio de 2010

18. GRUPOS AFROS: AFOXÉS

Afoxé ACABACA de Ivaldo Paixão

Os blocos de afoxés, oriundos dos terreiros de candomblé são considerados, historicamente, as entidades mais antigas do carnaval afro-brasileiro, pois desde o ano de 1890 os mesmos já desfilavam em forma de cortejo pelas áreas periféricas de Salvador, trajando roupas e adornos importados da África, demarcando, desta forma, uma produção cultural diferenciada através da dança, música, teatro, poesia estética do vestuário e do corpo.


Entre estes afoxés destacavam-se os seguintes: Embaixada africana, Pândegos da África, Filhos da África e Guerreiros da África.

Com nomes que remetiam a África, com abadas, búzios, no ritmo do ijexa e cantando orôs, Ra uma manifestação que mesmo embasada na tradição do povo negro, apontava para o futuro das relações raciais brasileiras.

Pesquisadores como Manoel Quirino, Olabiyi yai e Nina Rodrigues, reconhecem a forte influencia africana no carnaval brasileiro, como por exemplo, o damurixa que Ra uma festa mascarada que se realizava em Lagos na Nigéria no mês de janeiro e que teve “reprodução exata” nas ruas de Salvador a partir do ano de 1897. Assim como o Gueledé-Nagô-Yorubá, que era uma festa Yourubana.

Na virada do século XIX estes blocos negros tornaram-se incômodos ao sonho civilizacional elitista, sendo que houve a tentativa de tirar das ruas as entidades afro-carnavalescas. Porem acabou acontecendo o inverso e a elite se retirou das ruas para os clubes privados. Neste contexto surgem escolas de samba, maracatus e o bloco Afoxé Filhos de Gandhi.

No Ceará, o primeiro afoxé surgiu em Fortaleza no ano de 1990, no Axé Ilé Ibá, criado por pai Del de Oxum e pai Xavier de Obaluaê com o nome de Filhos de Sudan, valendo ressaltar que foi fundado no primeiro terreiro de candomblé aberto no Ceará e funcionando até hoje.

O afoxé reverenciava o orixá Oxum e saiu no carnaval de Rua de Fortaleza que em 1990 concorreu na Avenida Pessoa Anta, tendo desfilado como afoxé independente, ala da escola de samba “Império Ideal” sendo campeã, e também como ala de maracatu, seus componentes eram filhos da casa e comunidade do Parque Dois irmãos.

O afoxé Filhos de Sudan só participou do carnaval de 1990 e atualmente encontra-se adormecido na memória dos carnavais de rua de Fortaleza. O oro cantando naquele memorável carnaval foi o seguinte:

Os filhos de Sudan chegaram;

Rezando uma oração Nagô;

Falando de fé e esperança;

Espalhando paz e mor;

Dizendo para todas as nações;

Que os filhos de Sudan são irmãos;

Ê moriô moriô babá

Ê babá miloxé babá.

O segundo afoxé do Ceará foi fundado em 1991 e era composto por filhos do Ilê Axé Oloiobá, dentre os quais se destacavam: Sérgio Mulata, Júlio de Xangô, Marcello Santos, Roney,Leno Farias, Jairo de Oyá, Marcos da Justa, Lino e Jorge de Oxossi, Alexandre (DEDÉ) Mãe Valeria. Com o nme de Korin Orun (cantando para o céu), o afoxé realizou várias apresentações de palco, culminando com o 20 de novembro de 1994 na Praia de Iracema ( consciência negra) reverenciava o orixá Oxossi e adormeceu em 1995.


O Afoxé Oxun Odalá

O terceiro afoxé do Ceará surgiu em 1995 com os militantes do movimento negro do Ceará o “GRUCON” grupo de consciência negra. O afoxé tinha como nome “Kalunga Banzo” reverenciava os orixás Oxaguian e Iansã. Tinha como principais componentes Hilário (Xangô), Rosa Barros(Iansã), Cleudo Júnior (Pai Olotoji – parte espiritual com Ifá, Padê, etc), Oziléia, Izabel, Ana dentre outros. Desfilou como ala do maracatu Rei de Paus nos de 1995 e 1996. O afoxé adormeceu, porém, ainda hoje existe a ala dos africanos no Maracatu Rei de Paus que era a La do Afoxé Kalunga Banzo e que não usa pintura durante o cortejo.


O quarto afoxé do Ceará é o afoxé “Acabaca” fundado em 13 de maio de 2006 com o intuito de divulgar as religiões de matriz africana e lutar contra todo tipo de preconceito. O bloco “Afoxé Camutuê Alaxè – Acabaca vem preencher um espaço no meio cultural cearense e se propõe a ser mais um componente na diversidade cultural do estado.

Desde o final do século XIX havia uma forma de divertimento dos negros escravizados que buscavam preservar o patrimônio religioso ao mesmo tempo em que se constituía um repertorio afro-brasileiro que eram os afoxés, um cortejo de rua de origem Jêjê – Nagô com poder ritualístico e que tradicionalmente em desfile carnavalesco, reúne um grade número de afro-descendentes, simpatizantes e religiosos de cultos africanos dando-lhes a oportunidade de relembrar a cultura, os aspectos místicos e mágicos dentro dos rituais de seus ancestrais.

A força do Bloco Afoxé está na cultura negra, na beleza e na harmonia de sua plasticidade ritmada por ágeis mãos negras que entoam mantras afros com seus Alabês em três tipos de atabaques: Rum, rumpi e lê. Os ritmos são acompanhados por abes (xequerês) e agogôs, em ijexá de cadencia marcante. Esses são os únicos instrumentos utilizados por um afoxé de raiz.

Prestamos homenagem a todos os orixás conforme consta em nosso símbolo e estandarte cumprido antes de se iniciar os ensaios e desfiles alguns preceitos, preservando os valores e as características da africanidade com seus cânticos, instrumentos de percussão, ritmos e indumentária.

Um dos preceitos realizados é a cerimônia do Padê que significa “despacho de Exú” (entidade mágica que é a natureza dinâmica) aquele que recebe a oferenda e após o despacho concede a premissa para a realização do cortejo. A festa celebra os nossos antepassados e eles os eguns. Na ocasião também é pedido passagem e encaminhamento a nossa tradição. Somente após o Padê que o afoxé se entrega aos cantos e danças iniciando sua peregrinação religiosa.

O Camutuê Alaxé, foi criado e idealizado pelo militante do movimento negro “Ivaldo Ananias Machado da Paixão” e conta com a inestimável colaboração da UECUM, FEBARJ, Paulo Mandu, Nonato Fernandes, José Antonio, José Adanisio, Mãe Taquinha (que gentilmente através do Ifá fez a confirmação do nome do bloco – Camutuê Alaxé).

A fim de registrar para a história musical que a introdução do Abê no Ceará teve como pioneira a Associação de Expressão Cultural Percussiva Caravana Cultural e também por reconhecer a importância do Abê (xequerê) na musicalidade de origem africana e em especial no ritmo ijexá de um afoxé é que o afoxé Acabaca levou para a avenida em 2009 o enredo “Abê no Ceará – obrigado caravana”.

O Abê (agbê ou xequerê) é um instrumento de percussão de origem africana constituído de uma cabaça (fruto vegetal) coberta entrelaçadamente com miçanga (antes eram búzios ou ave-marias) que balançados de um lado a outro, friccionados, pelas mãos hábeis de alabês faz com que a malha de contas repercuta na parte externa da cabaça emitindo um som que lembra a palavra xequerê e devido a sua sonoridade poderosa obriga o percussionista a dançar para tocá-lo com movimento frenéticos de muita harmonia e beleza plástica.

O quinto Afoxé do Ceará é o Obá Orun – “ Afoxé Rei dos Céus” fundado em agosto de 2007 na cidade do Crato na Universidade Estadual do Cariri (URCA), tendo como proposta a implementação da lei 10.639/03. Os idealizadores e componentes são: Lincoly Jesus Alencar Pereira, Ridalgo Félix, Jackson Rodrigues e Yáscara Rodrigues. O Afoxé Oba Orun reverencia o orixá Xango e só realiza oficinas e apresentações de palco.

O sexto afoxé do Ceará é o Afoxé Filhos de Oyá fundado no ano de 2008 no Centro Espirita de Umbanda Rei Dragão do Mar no bairro Jardim Jatobá, tendo como idealizadora Mãe Taquinha de Oyá. Seus componentes em maioria são da comunidade do jatobá e frequentadores do referido centro. Seus principais membros são: Raimundo praxedes, Mãe Jeannie, Pai Marcos Amorim, Mãe Antonieta e Paulo Mandu.

O Afoxé Filhos de Oyá desfilou oficialmente pela primeira vez no carnaval de Rua de Fortaleza oficialmente bem 2009 entoando um oro composto por            Descartes Gadelha e Inês Mapurunga intitulada “meu atabaque, meu agogô”.

O sétimo afoxé do Ceará é o afoxé Oxum Odalá fundado em 2009, que surgiu do Instituto de difusão da Cultura Afro – Brasileira (INDICA), tendo entre seus fundadores; Raimundo Praxedes (diretor de eventos), Pai Wagner de Oxum (presidente do Indica) que batizou o afoxé com o nome anteriormente dito. O afoxé foi lançado em 27 de setembro de 2009 em um evento festivo no parque da liberdade.

Finalizando; gostaríamos de tecer um pequeno comentário sobre o afoxé “Senhor do Bonfim” citado no livro de Raul Lody “O Povo de Santo; História e cultura dos orixás, Voduns, Inquices e Caboclos”. Segundo o autor, o afoxé teria existido com cede no bairro do Bom Jardim e seria o segundo afoxé a ter sido fundado no Ceará. Após meticulosa pesquisa, constatamos que o Afoxé Senhor do Bonfim nunca chegou a existir havendo um equivoco por parte do autor citado, pois o pai de santo Luis de Xangô tinha uma roça (terreiro de candomblé) denominada de Senhor do Bonfim. Luis também era fundador do Maracatu “Verdes Mares” e seus filhos de santo saiam na útima ala do mesmo. O Maracatu em questão lembrava em sua organização um grupo de afoxé, daí nosso entendimento quanto ao equivoco deste escritor em citar este maracatu como mais um afoxé.